Family Trip Magazine

Como as viagens podem ajudar a ampliar o paladar das crianças

Dicas para incentivar as crianças a provar novos sabores sem pressão nem estresse, tornando a experiência da viagem agradável e enriquecedora para toda a família

Por Natália Faria G. Viana

  • Viajar em família é uma excelente oportunidade para vivenciar novas culturas e descobrir diferentes sabores. Além de fortalecer os laços familiares, essas viagens permitem que as crianças explorem o mundo através da culinária, uma das expressões mais autênticas de qualquer cultura. No entanto, a adaptação dos hábitos alimentares pode ser um desafio para os pequenos, especialmente quando enfrentam sabores e texturas desconhecidos.

A psicóloga especialista em paladar infantil Leann Birch, pesquisadora da Universidade da Geórgia, afirma que há uma razão biológica para as crianças preferirem alimentos salgados, doces e gordurosos. “Elas nascem preferindo salgado e doce, e se esses sabores estão nos alimentos, a maioria das crianças vai ser muito atraída por eles”, afirma Birch, que estuda o comportamento alimentar infantil há mais de quatro décadas. Ela explica que os pais devem esperar que seus filhos rejeitem novos alimentos inicialmente, uma resposta inata chamada neofobia.

A neofobia alimentar, que é a resistência das crianças a novos alimentos, tem raízes evolutivas. Segundo um estudo publicado por Białek-Dratwa et al. em 2022 no periódico Nutrients, as papilas gustativas das crianças são biologicamente adaptadas para preferir sabores doces, evitando os amargos e azedos que, na natureza, podem estar associados a alimentos venenosos. Esse comportamento de neofobia alimentar era vantajoso na evolução humana, aumentando a chance de sobrevivência ao evitar a ingestão de substâncias potencialmente perigosas.

Mas por que insistir que as crianças experimentem novos sabores?

Birch esclarece: “Se você expuser as crianças repetidamente a diferentes sabores — incluindo azedo, amargo e até picante, mas sem forçar — elas geralmente aprenderão a comer uma variedade maior de alimentos”. Entrar em contato com sabores de outras culturas, portanto, apesar de um desafio para muitos, é uma chance valiosa de expandir o paladar dos pequenos, tornando a gastronomia local uma parte enriquecedora da viagem para toda a família. 

Birch destaca que expor as crianças a uma diversidade de sabores desde cedo “tende a produzir crianças mais dispostas a experimentar outras coisas”. Ela ressalta que “os bebês nascem predispostos a aprender a comer as dietas das pessoas ao redor deles”. Idealmente, segundo Birch e outros especialistas, todas as crianças deveriam comer o mesmo que seus pais desde que começam a ingerir alimentos sólidos, adaptados inicialmente para sua idade.

Assim, podemos presumir que famílias que viajam para destinos de gastronomia diferente daquela de seu local de origem aumentam as chances de seus filhos desenvolverem um paladar mais amplo. Essas experiências culinárias exóticas não apenas promovem uma alimentação mais diversificada e saudável, mas também enriquecem o entendimento cultural das crianças, tornando-as mais abertas e adaptáveis a novas experiências ao longo da vida. Viajar, portanto, vai além de conhecer novos lugares; é uma oportunidade de crescimento e aprendizado contínuo para toda a família.

Incentivando a experimentação de novos sabores durante as viagens

Uma abordagem prática para incentivar as crianças a experimentarem a gastronomia local pode ser visitar restaurantes um pouco antes do horário habitual de refeição. Isso oferece a oportunidade de experimentar pequenas porções dos pratos locais sem a pressão de terem que aceitar esses alimentos como a única opção disponível. Birch destaca que criar um ambiente positivo durante as refeições é crucial para desenvolver uma relação saudável com a comida.

Para crianças mais velhas, explicar a importância de estarmos abertos a novos temperos e texturas ao conhecer outras culturas costuma ser uma estratégia eficaz. Envolver as crianças na escolha dos pratos ou permitir que elas observem a preparação dos alimentos tende a aumentar seu interesse. Jennifer Anderson, especialista em nutrição infantil e criadora do programa “Kids Eat in Color”, destaca que envolver as crianças no processo de escolha e preparo dos alimentos pode aumentar a disposição delas a experimentar novos sabores.

Evitar transformar a refeição em um momento de conflito e estresse também é fundamental. Dr. Carlos González, pediatra e autor do livro “My Child Won’t Eat: How to Prevent & Solve the Problem”, afirma que respeitar os sinais de fome e saciedade das crianças e não forçá-las a comer são práticas essenciais para criar uma experiência alimentar positiva. Isso promove um ambiente mais colaborativo e equilibrado, onde as responsabilidades são divididas de maneira mais justa.

Transformar a alimentação em uma aventura

Crianças tendem a demonstrar personalidade e desejo de controle através da comida. A neurologista pediátrica Ena Andrews aconselha a não barganhar ou lutar, mas sim transformar a resistência em desejo de aventura. Desafie a criança a tentar coisas novas, convencendo-a de que é uma corajosa aventureira da cozinha. David Ludwig, autor de “Você Precisa Comer Melhor”, sugere envolver a criança no processo de escolha dos alimentos, pesquisando juntos na internet, explicando o que é saudável e por quê, e convidando-a para cozinhar junto, como em um mini “Master Chef”.

Dicas práticas para ampliar o paladar dos filhos

  • Introduza novos alimentos gradualmente: Ofereça pequenas quantidades de novos alimentos junto com alimentos familiares. Leann Birch destaca que a repetição é chave, pois crianças podem precisar ser expostas a um novo alimento de 10 a 15 vezes antes de aceitá-lo.
  • Seja um exemplo: Crianças tendem a imitar os adultos. Mostrar entusiasmo ao experimentar novos pratos pode incentivá-las a fazer o mesmo. Segundo Ellyn Satter, pais que comem uma variedade de alimentos na frente das crianças ajudam a normalizar a diversidade alimentar.
  • Crie histórias em torno dos alimentos: Transforme a refeição em uma aventura, contando histórias sobre a origem dos ingredientes e as tradições culinárias do local. Jennifer Anderson sugere que envolver a imaginação das crianças pode tornar a experiência mais excitante e menos intimidante.
  • Utilize recompensas não alimentares: Elogie e incentive a criança por tentar algo novo, mas evite usar sobremesas como recompensa. Dr. Carlos González destaca que elogios e reconhecimento podem ser motivadores eficazes sem criar associações negativas com a alimentação.

Incorporar essas estratégias pode transformar a experiência gastronômica das viagens em momentos de aprendizado e prazer para as crianças. Com paciência e criatividade, os pais podem ajudar seus filhos a desenvolver um paladar mais diversificado, enriquecendo suas experiências de vida e fortalecendo os laços familiares.

Referências

– Białek-Dratwa A, Szczepańska E, Szymańska D, Grajek M, Krupa-Kotara K, Kowalski O. Neophobia-A Natural Developmental Stage or Feeding Difficulties for Children? Nutrients. 2022 Apr 6;14(7):1521. doi: 10.3390/nu14071521. PMID: 35406134; PMCID: PMC9002550.

– Satter, E. (2000). Child of Mine: Feeding with Love and Good Sense. Bull Publishing Company.

– Anderson, J. (2020). Kids Eat in Color: A Simple Guide to Raising Healthy Eaters. Healthy Eater Publications.

– González, C. (2006). My Child Won’t Eat: How to Prevent & Solve the Problem. La Leche League International.

– Ludwig, D. (2009). Você Precisa Comer Melhor. Ed. Bestseller.

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le adora levar eletrônicos para a viagem: celular, drone, máquina fotográfica, carregadores,..

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Ela é apaixonada pelo mochilão de viagem colorido, mas adora também outros acessórios 

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