Irena Freitas: a ilustradora do premiado Guia de São Paulo
Conheça a criativa e colorida ilustradora de diversos livros infantis, incluindo o recém-premiado guia São Paulo
- Por Sut-Mie Guibert
Irena Freitas nasceu no Espírito Santo, foi pequena para Manaus, onde cresceu e vive até hoje. Ela é delicada e simpática, mas não se engane: atrás desse rostinho de menina existe uma brilhante ilustradora com mais de 24 indicações e prêmios! O último que recebeu foi sobre o São Paulo, um livro guia divertido que foi criado junto com o escritor Mauro Calliari, para o aniversário da cidade, no ano passado. O livro completou um ano e acabou de ganhar de presente o Prêmio da Feira de Livros Infantis de Bolonha 2024.
Em meio à muitas viagens e lançamentos, conseguimos uma conversa exclusiva com esta apaixonada por universos literários infantis.
Conte-nos um pouco sobre a sua história e como nasceu o livro objeto São Paulo?
“Sempre gostei muito de desenhar e, por um tempo, pensei em me dedicar mais à essa parte de ilustração; não necessariamente para livros, mas eu também trabalho bastante para jornais, revistas e de vez em quando eu pego publicidade. E eu sempre gostei de livros, mas eu não sabia exatamente como entrar nesse mercado, porque eu não tinha vontade de escrever livro só de texto e nem livro só de imagens, Então eu acho que o livro ilustrado é aquele meio termo, em que a gente precisa do texto e das imagens. Acho que foi uma forma que eu encontrei de me comunicar, que era mais natural para mim.”
São Paulo é um livro que não tem idade. A gente fala que é “infantil” pelas ilustrações, porque é tudo muito colorido, mas ele não é especificamente infantil…
“Eu acredito muito que livro não tem idade, até porque, desde pequena, eu gostava de livros de diferentes faixas etárias. Eu penso que a real diferença é que quando você está trabalhando com público infantil, existem temas mais gráficos que você precisa levar em consideração, que talvez expor uma criança a esse conteúdo dessa forma, não é o mais indicado. Mas eu não acho que exista algo que seja impossível de uma criança compreender. Por exemplo, eu tenho um livro, A Floresta, que é sobre as queimadas aqui na Amazônia, e eu não entro em questões políticas, mas no conceito de que as queimadas estão acontecendo e isso é fato, que a gente vê nos noticiários. Então eu sempre tento procurar formas de trazer coisas do dia a dia, das cidades, dos lugares que a gente vive, de uma forma que possa existir esse diálogo entre crianças e adultos.
Por isso que eu não penso em um livro que vai só agradar as crianças ou só agradar os adultos, porque eu acho que o mais importante de um livro é que a gente se sinta bem com esse diálogo entre crianças e adultos; o mais importante é que a gente se comunique, que a gente transmita nossas ideias, e que o leitor também faça parte disso.
Você vive em Manaus; inclusive, o primeiro livro dessa coleção de livro-cidade é sobre Manaus, no conceito de livro-objeto, jogo, para ser lido junto.
É que essa série de livros, na verdade, foi parte da minha tese de mestrado. Eu estava estudando justamente livros-objetos. Na época, eu estava desenhando muito as coisas que eu via no meu dia a dia. Eu saia para passear, andar no parque, eu desenhava as pessoas que eu via, os objetos, sentava no café para desenhar…Então, isso foi meio que criar esses livros estando em cidades.
Nessa época, eu estava morando nos Estados Unidos, para o mestrado, então eu fiz três livros que eram baseados em cidades onde eu vivia: Manaus, a minha cidade natal, Savana, nos Estados Unidos, onde eu estava e o Porto, em Portugal, onde eu eu fiz programa de intercambio pela universidade. Então, eu fiz sobre esses três lugares e eram livros a partir do meu ponto de vista.
Depois que eu me formei, eu busquei editoras para ver se alguma delas tinha interesse em publicar, e foi quando eu conheci a Edição Barbatanas, que trabalham bastante com livros objetos e eles se interessaram muito pelo livro de Manaus.
São Paulo encaixa muito nesse tipo de projeto, porque é uma megalópole: muita coisa acontecendo, muitas paisagens, muita gente, situações. E você colocou vários detalhes, tanto nas ilustrações quanto no texto atrás, que é bem mais detalhado e bem mais guia de passeios.
O primeiro, de Manaus, eu escrevi e ilustrei, porque eu sou de Manaus. Quando estávamos idealizando o de São Paulo, pensamos que talvez fosse legal convidar alguém para escrever o texto que more em São Paulo. E o Mauro Calliari é urbanista; ele é uma pessoa que que vive a cidade, que passeia muito por ela. Então fizemos o convite. E ele ainda tem toda essa pegada arquitetônica, justamente, dos monumentos, da arquitetura…e São Paulo tem muito disso, tanto nos prédios quanto no ambiente. Enfim, foi um encaixe perfeito.
São Paulo é tão grande, que quando eu estava planejando as ilustrações, eu sempre ficava pensando: nossa, vai ficar faltando isso, vai ficar faltando aquilo!
E o mais legal é que ele funciona como um souvenir. Quando você viaja, você quer trazer algo para casa. E é um livrinho pequeno, que não ocupa espaço na mala. É bem fácil de trazer de presente.
Nas cidades, onde você encontra inspiração?
Cada cidade é tão diferente! Sempre tem algo. Então é mais observar a rotina, o que tem de especial. Eu geralmente faço uma lista: o que tem aqui nessa cidade que nenhuma outra tem? Aqui no Amazonas, tem frutas que não existem em outras regiões do Brasil, tem peixes que só existem no Amazonas. Então eu vou tentar encaixar todas as diferenças que tem cada uma das regiões.
Quando eu era criança, eu não gostava que o livro tivesse uma lição, uma moral. Então eu tento pensar em coisas que são interessantes do ponto de vista de uma criança. Você está no parque, as estátuas que tem no parque, os animais…eu sempre tento buscar cores que chamem a atenção das crianças, porque eu poderia fazer um livro de São Paulo extremamente cinza, mas não seria tão interessante. Eu tentei buscar outras referências: por exemplo, na bandeira de São Paulo tem o vermelho bem aberto, então trazer um pouco mais esse vermelho, trazer o verde do Ibirapuera, trazer a ideia de multidão com muitas pessoas vestindo coisas diferentes, que eu acho que é algo que uma criança percebe mais do que, por exemplo, a poluição que existe em São Paulo. Com certeza, uma criança vai perceber isso tudo antes de perceber outras coisas, que já são de uma percepção adulta.
Como as crianças interagem com os seus livros?
Certa vez, uma mãe me enviou uma foto que a filha dela pega esses livros (São Paulo e Manaus) e usa como cenário para os brinquedos. Ela abre, constrói as casinhas, os bonecos e o cenário da história é a cidade de São Paulo. E isso é uma coisa que eu nunca pensei que uma criança poderia fazer, mas que eu achei super interessante.
Penso que a maioria das crianças são muito abertas a conversar com alguém. Eu me lembro que uma vez eu fiz um evento onde eu ensinei a fazer um livro com uma dobra. Algumas crianças disseram: “Está muito pequeno! Como faço para deixá-lo maior? Podemos colar uma página na outra e deixá-las maiores.” Cada uma delas escreveu histórias. Algumas disseram que queriam desenhar sua cidade, elas também. Outros queriam desenhar, outros só escrever. Geralmente, eram os maiores que tinham vergonha de desenhar. Depois, teve os que inventavam uma história inteira. Foi muito interessante observar o que cada um trazia.
Isso é uma boa ideia para uma criança que viaja, inclusive. Desenhar um pouquinho ou escrever o que vivem no dia.
Um recado para os pais?
O hábito da leitura é o mais importante: você tentar buscar livros que a sua criança gosta de ler e fazer isso com uma frequência constante. Às vezes, eu acho que os pais tendem a projetar: “eu gostei desse livro, então meu filho tem que gostar também”, ao invés de perguntar quais são os interesses da criança.
Mesmo que pareça algo bobo para você, é importante ler meia horinha daquele livro com a criança antes de dormir, no meio da tarde. Com certeza vocês vão achar coisas em comum e vai gerar diálogo, porque é uma boa forma de você conversar com seu filho.
Serviços
Dicas da Família Way do que não pode faltar na mala quando for para São Paulo
Gate
Ele adora levar eletrônicos para a viagem: celular, drone, máquina fotográfica, carregadores,..
Fly
Ela é apaixonada pelo mochilão de viagem colorido, mas adora também outros acessórios