Family Trip Magazine

Paternidade em dose dupla e Amor de sobra

Conheça a história desta família formada por dois pais e três filhos e veja como o amor e a inclusão transformam a sociedade

Por Sut-Mie Guibert

Janderson Lima (carinhosamente chamado de Janson) é cirurgião dentista e, junto com o Pedro, formam um casal há muito tempo. Sempre foram festeiros e viajantes. Hoje com três filhos, a aventura e os desafios aumentaram. O interesse de casais do mesmo sexo em casar e ter filhos tem crescido consideravelmente. O Supremo Tribunal Federal autorizou casais homoafetivos a se habilitarem para a adoção em 2015. Nos últimos quatro anos, o número geral de adoções aumentou 113%. Não foi o caso do Janson e do Pedro, que optaram por outra solução. Mas ninguém melhor do que eles para contar esta história.
Leia a história inspiradora desta família e veja como o mundo fica melhor quando todos são aceitos como são. 

Como surgiu o desejo de serem pais?

“Pedro sempre quis. Estamos juntos há 23 anos e, desde o início, ele tinha essa vontade de ser pai. Só que presenciamos a história de alguns casais, há 20 e poucos anos atrás, em tentativas de adoção que foram muito frustrantes. Hoje as coisas mudaram muito, mas um casal de amigos nossos chegou a levar a criança para casa e depois os juízes negaram a guarda deles e eles tiveram que a devolver! Em função disso, a questão da adoção para nós foi taxativa: não iríamos por esse caminho. Mas eu também era muito novo e não tinha vontade de ser pai naquele momento.

Isso surgiu depois, com o passar dos anos. Surgiram outras possibilidades, como mulheres que quiseram emprestar a barriga para ter um filho compartilhado… mas nada disso nos interessava. Até que conhecemos um casal que fez um processo de barriga de aluguel através de uma agência israelense. Ficamos muito amigos, viajamos juntos, convivi com a família e crianças deles… e a partir daí, em uma viagem de lazer para Tel Aviv, enquanto estávamos na praia, vimos vários casais homoafetivos com seus filhos, curtindo… Daí falei: “se você quiser ter filho nesses moldes, como os amigos fizeram, com uma barriga de aluguel, fora do Brasil e com uma doadora anônima… eu topo”. Pedro deu um pulo! Saiu da praia e disse: “Então, vamos resolver isso agora!” Da praia mesmo, fomos direto para uma reunião que conseguimos marcar com a agência, que viabilizou todo o processo de barriga de aluguel e nós começamos os nossos tratamentos lá mesmo, em Israel.

Como as famílias de vocês reagiram?

Nós demoramos muito para contar! Porque o processo é longo. Contamos para as famílias quando ja estávamos grávidos das meninas (gêmeas) e elas tomaram um susto! Todos reagiram de uma forma muito positiva! A minha mãe, na época, questionou “Mas como vocês vão ser capazes de cuidar de uma criança”? Eu sempre fui muito festeiro, de viajar sem parar. Aí, ela falou: “Mas você sabe que tem que parar de viajar, né?! Vocês vão ter uma criança para cuidar!” Até então, ela não sabia que eram gêmeas e que o terceiro estava a caminho! (risos).

A família já nos conhecia como casal há muito tempo, já estávamos juntos há muito tempo. E foi uma felicidade só, porque eu sou o caçula de 3 irmão e o Pedro é o calçula de 5 irmão.

Nossos sobrinhos mais novos já tinham 15/16 anos, então depois de tudo isso, das famílias já constituídas, netos crescidos e de onde nunca se imaginava vir mais crianças, vieram logo três!

Foi um sopro de vida na família todinha, porque nossas crianças viraram a sensação!

Como foi quando as crianças nasceram?

Foi difícil fazer um processo que não existia no Brasil, em um país totalmente diferente e sabíamos que íamos ter que ficar lá, só eu e o Pedro, quando as crianças nascessem e foi exatamente o que aconteceu.

Quando eles nasceram, nós cuidamos deles desde o início. Não tínhamos família de apoio, enfermeiras, não tínhamos ninguém: fomos só nós dois e isso, durante muito tempo. Desde o primeiro banho, cuidar do umbigo até cair, trocar fraldas… tudo! Éramos só nós dois e isso nos aproximou mais ainda. E nos fez sentir também o nascimento dessa relação com as crianças: próxima mesmo. Não teve interferência de ninguém, não teve visitas, foram mais de 30 dias só nós dois com as gêmeas. Daí voltamos para o Brasil e quase quatro meses depois, o Pedro nasceu. Tivemos que deixar as meninas com as nossas famílias e fomos lá novamente para receber o Vitor. Quando ele nasceu, nós estávamos lá e aí, o processo se repetiu. Fazíamos chamada de vídeo com as meninas… mas quando o Vitor pisou no Brasil com a gente, nós sentimos que a nossa família estava completa! 

A emoção quando eles nasceram foi…(silêncio)…a coisa mais esperada das nossas vidas!

A partir do momento que decidimos ser Pais, a gente não mediu esforços!

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Como são as viagens com eles?

Hoje eles têm quase 9 anos. Eles já começaram a vida tendo que viajar! Atravessar o Mundo, os três com 30 dias; viemos da de Bangkok (Tailândia) para o Brasil. O mêsversário delas foi durante um voo da Emirates e quando o pessoal viu que tinham duas menininhas gêmeas no voo com um mês, trouxeram bolo, cantaram parabéns, tiraram fotos… Muito legal!

Depois dessa primeira viagem necessária, já começamos a passear. Fomos para Trancoso quando eles tinham 3 meses. A gente nem tinha carro para todo mundo, tivemos que ir em dois carros! Fomos para a praia e a partir daí, a gente nunca parou. Compramos um carro maior com um porta malas gigante e levávamos berços desmontáveis, banheiras… tudo o que você imaginar! Tudo inflável, para não passar perrengue. Tínhamos a ajuda de babás, até porque é uma fábrica, três crianças juntas! O banho era em série: era um na banheira, o outro enxugando, o outro botando roupa… (risos)… é bem engraçado! Não tinha colo para todo mundo. Tínhamos que levar uma babá para uma das crianças viajar no avião. E até hoje quando os aviões são pequenos (2 lugares de cada lado), sempre sobra um!

O segredo é viajar com eles cedo: esses meninos não passam mal no carro, nada! Quando bebezinho já coloca no carro e já mostra o que é bom da vida! Eles nascem nesse contexto e nem questionam. Se tiver que passar o dia inteiro dentro do carro, eles ficam. Temos brincadeiras para fazer dentro do carro, as paradas que a gente gosta…e como viajamos muito de carro (moramos em Minas, então podemos ir para a Bahia de carro, para Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Espírito Santo); não é pertinho mas às vezes é mais fácil do que ter que pegar um voo e passar por Belo Horizonte. Já temos nossos lugares habituais de parada, todos já conhecem as crianças: “Nossa, como eles cresceram!”, “Esse ano, vocês não passaram aqui”…

No início a gente arrumava tudo bonitinho, fazíamos uma mala para eles e uma para o casal. Agora eles já querem ter cada um sua mala. Cada um ganhou a sua e estamos começando a deixá-los organizar… depois a gente vai lá e conserta, mas dá muito trabalho, porque eles querem levar um monte de coisas que não tem nada a ver! É muito gostoso ver a gente montando essa história. 

O que eles aprendem?  

Quando a gente fica muito tempo sem viajar, eles sentem falta: “poxa, só viajei x vezes este ano”! Eles aprendem que o universo é muito além das fronteiras da nossa cidade, que existem culturas diferentes, que existem outras línguas, por isso eles precisam aprender a falar inglês, senão eles não conseguem se comunicar (como já aconteceu);  que a comida que se come aqui é diferente, que os hábitos religiosos são diferentes…Abre a cabeça e passa por diversos vieses. Essa viagem para Paris, foram eles que escolheram! E já estamos no processo em que eles preferem trocar festa de aniversário por viagem e eu acho isso sensacional!

As crianças já foram questionadas por terem 2 pais? Alguma dica sobre a educação delas em relação ao olhar dos outros?

Como eles nasceram nesse contexto, para eles é natural ter dois pais. Sempre fomos muito abertos. Tivemos que explicar que existem famílias diferentes. Não a nossa; a nossa, na cabeça deles, era o padrão: dois homens com eles. Mas fomos explicando que tem casos que existe um pai e uma mãe, tem casos que existem duas mães, tem casos de crianças cuidadas pelos avós, tem crianças que moram em orfanatos…não deixam de ser uma família.

Em relação à escola, aos amigos, nunca tivemos nenhum problema. As crianças sempre foram super bem-vistas e chamadas para tudo. Os amiguinhos querem ir lá pra casa, dormir, brincar, não tem diferença nenhuma.

Eles já  tiveram esse enfrentamento sim: já aconteceu em shopping de perguntarem para eles “Cadê a Mamãe?” e eles mesmo respondem naturalmente: “Não tem mãe. Eu tenho dois Pais. Eu sou o filho do Papai Janson e do Papai Pedro”. A gente nunca teve problemas com isso. Tivemos até o caso contrário: na aula de natação, revezávamos eu e o Pedro, e assim em todas as aulas estávamos presentes. E aí as outras crianças observavam que as babás ficavam lá, que os pais deixavam as crianças, iam trabalhar e voltavam para buscar… aí um dia, uma mãe amiga falou: “Nossa, Pedro e Janson, vocês estão elevando demais o nível! Tomás chegou lá em casa falando que queria ter dois pais também, porque quando você tem dois pais, eles acompanham todas as aulas de natação!”

Qual o próximo sonho de viagem? 

Queremos voltar para a Tailândia, todos juntos, para conhecerem o local onde eles nasceram, curtir aquele país tão especial e lindo! Estamos esperando eles crescerem um pouco mais para entenderem tudo melhor.

Eu acho que o segredo é tratar tudo com muita NATURALIDADE.

Eles não são melhores que ninguém por terem dois pais, mas também não são piores que ninguém. Eles são apenas crianças, como qualquer outra criança e nunca mostramos para eles que eles têm que ser diferentes porque a nossa família tem um formato diferente.

Serviços

Autorização de viagem internacional
Seguro de viagem

As agências Viajar com Crianças e Viajar com Adolescentes fazem roteiros individuais ou em grupos de famílias para lugares fora do comum. 

Dicas da Família Way do que não pode faltar na mala

Gate

Ele adora levar eletrônicos para a viagem: celular, drone, máquina fotográfica, carregadores,..

Fly

Ela é apaixonada pelo mochilão de viagem colorido, mas adora também outros acessórios 

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