
- SAINDO DA ROTINA
Viajar sem telas: como criar momentos de presença e conexão real em família
Desconectar das telas para se conectar com o que realmente importa: presença, vínculo e memórias em família
Por: Gabriela Pisati Landi
Em um mundo onde a vida acontece cada vez mais pelas telas — onde as conversas são interrompidas por notificações, as refeições dividem espaço com vídeos e as paisagens são muitas vezes vistas apenas através das câmeras dos celulares —, viajar sem telas se torna um ato quase revolucionário. É, antes de tudo, um gesto de cuidado. Cuidado com a infância, com os vínculos e, sobretudo, com o tempo — esse bem tão escasso e, por isso, tão precioso.
Fazer uma viagem sem depender das telas não significa negar a tecnologia, mas resgatar a experiência de estar verdadeiramente presente. É permitir que as crianças (e também os adultos) possam se encantar com o som do vento, com a textura da areia, com o cheiro da mata, com as conversas ao redor da mesa. É olhar no olho, rir junto, construir memórias que não precisam ser fotografadas para existirem. E, talvez, seja esse o maior presente que uma viagem pode oferecer: a chance de viver o agora.
Como lembra o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, no livro “No Enxame”, vivemos um tempo de hiperconexão e excesso de informação, mas de escassez de presença. “Quem vive em permanente estado de atenção dispersa, perde a capacidade de contemplação. E sem contemplação, não há profundidade.” Uma viagem em família, quando pensada com intenção, pode ser justamente esse contraponto. Uma pausa no excesso. Um reencontro com o essencial.
O que realmente fica depois de uma viagem?
Quando perguntamos às famílias sobre os momentos mais marcantes das viagens, raramente a resposta envolve uma foto perfeita ou um vídeo viral. O que fica, quase sempre, são as memórias sensoriais: aquele pôr do sol que todos pararam para observar em silêncio, a gargalhada despretensiosa depois de uma situação inesperada, a trilha em que as crianças inventaram brincadeiras com pedras e gravetos, o piquenique no meio de um parque ou aquela longa conversa que só aconteceu porque, ali, o tempo estava mais gentil.
Ao viajar, abrir mão das telas — ainda que por algumas horas do dia — é abrir espaço para esse tipo de experiência. É permitir que a imaginação ocupe o lugar do algoritmo, que a escuta ativa tome o espaço dos áudios acelerados e que o ritmo da natureza ou da cidade seja mais importante do que o feed de notícias.
Como as viagens sem telas impactam as crianças?
Para as crianças, que estão em pleno processo de formação, a ausência (ou redução) das telas durante a viagem cria espaço para o desenvolvimento de competências que nem sempre cabem na rotina hiperconectada: a observação, a paciência, a escuta, a curiosidade espontânea, o senso de cooperação e o encantamento com o simples. Brincar, explorar o desconhecido, fazer perguntas, imaginar histórias — tudo isso floresce quando há espaço.
E esse espaço, muitas vezes, é oferecido pela natureza. Como defende o jornalista e pesquisador Richard Louv, autor do livro A Última Criança na Natureza, o contato com ambientes naturais funciona quase como uma “terapia verde”, despertando sentidos adormecidos, aliviando o estresse e devolvendo às crianças (e também aos adultos) a capacidade de se encantar com o mundo real. Louv propõe que não estamos apenas lidando com excesso de telas, mas com um déficit de natureza — e que reconectar-se com ela é essencial não apenas para o bem-estar, mas para a saúde emocional, cognitiva e até social das crianças.
Ao viajar, essa reconexão se torna mais possível. Estar em um lugar onde o tempo é marcado pelo som dos pássaros, pela variação da luz do dia, pelo cheiro da terra molhada ou pelo silêncio entre as árvores, cria uma espécie de descompressão. E, quando isso acontece, as telas perdem força. Porque o que se apresenta diante dos olhos é mais interessante, mais vivo, mais real. E, mais do que isso: compartilhável de verdade — no aqui e agora, com quem está por perto.
Destinos que favorecem a presença (mas que só fazem sentido com a curadoria certa)
Lugares que oferecem contato com a natureza, experiências culturais sensoriais e espaços de respiro favorecem esse tipo de viagem. É aquela trilha na Patagônia que convida à contemplação. É a Amazônia, onde o sinal de celular dá lugar ao som dos pássaros e das águas. É o Vale Sagrado no Peru, onde o caminhar pelos mercados e ruínas ancestrais instiga a curiosidade e o diálogo. É também uma manhã tranquila em Paris, em que se troca a fila de um museu lotado por um piquenique nos Jardins de Luxemburgo, com tempo para observar, conversar e brincar.
Mas não se trata apenas de escolher destinos “desconectados”. O que transforma a experiência não é só o lugar, mas o modo como a viagem é pensada. E é nesse ponto que a curadoria faz toda a diferença. Um roteiro bem planejado, que respeita o ritmo da infância e oferece pausas genuínas, favorece esse estado de presença — seja na natureza, seja nas cidades.

Presença: o luxo dos nossos tempos
O filósofo francês Frédéric Lenoir, ao refletir sobre felicidade e sentido, afirma que “não há felicidade possível sem presença plena no instante vivido”. E talvez esse seja, no fim das contas, o verdadeiro luxo de uma viagem em família hoje: poder estar. Estar junto. Estar inteiro. Estar atento.
Quando escolhemos viver uma viagem assim, estamos não só oferecendo às crianças uma experiência enriquecedora, mas também ensinando, na prática, que há outros jeitos de estar no mundo. Que nem tudo precisa ser compartilhado, registrado ou performado. Que, às vezes, basta viver.
Porque, no fim, o que atravessa o tempo não são os stories, nem os reels, nem as fotos perfeitas. O que fica são as conversas no meio do caminho, o cheiro do mato depois da chuva, a gargalhada que ecoa no meio de uma trilha e aquele abraço apertado depois de um dia inteiro explorando o mundo — juntos, de verdade.
Dicas da Família Way do que não pode faltar na mala
Gate
le adora levar eletrônicos para a viagem: celular, drone, máquina fotográfica, carregadores,..
Fly
Ela é apaixonada pelo mochilão de viagem colorido, mas adora também outros acessórios
Trip
Hope
Nick
O Nick precisa da caixa transportadora, da coleira prática, da garrafa para beber água