Family Trip Magazine

Campanha @usejab / Foto: Nicolas Gondim

Chef Rodrigo Oliveira: o Sertão de Pai para filho

Tudo parecia improvável e, no entanto, deu muito certo! Conheça a história familiar do restaurante nordestino Mocotó

Não há como apresentar o Chef Rodrigo Oliveira sem antes contar a história do restaurante Mocotó. Eles são indissociáveis, um cresceu com o outro! O Mocotó, na zona norte de São Paulo, completa este ano 50 anos, uma data que não passa despercebida. Segundo Rodrigo, “o Mocotó é um restaurante improvável: uma casa do Norte, com comida sertaneja, quase nos limites da cidade de São Paulo…não é o típico restaurante gastronômico“. Seu Zé, pai de Rodrigo, começou em 1973, quando chegou em São Paulo com dois irmãos, todos retirantes da seca do Nordeste, sem educação formal. Chegaram sem nada, só com a vontade e a coragem e, juntos, montaram a primeira Casa do Norte. Em três anos, criaram três estruturas rústicas e modestas em diferentes regiões da cidade, que acolhiam a enorme colônia nordestina com uma comida-aconchego, lembrança de casa e da terrinha.

A coisa deu certo, a ponto de cada irmão ficar com um estabelecimento. Foi ali que Rodrigo começou, aos 13 anos, ajudando o pai depois da escola, servindo centenas de caldos de mocotó. Daí surgiu naturalmente o nome. De um simples balcão, o restaurante atravessou a rua e ganhou algumas mesas. Seu Zé seguiu trabalhando duro, um nordestino arretado.

Mais tarde, Rodrigo estudou engenharia ambiental, mas foi após o conselho de uma amiga, que ele fez um curso de gastronomia; algo que ele define como transformador, onde ele se encontrou e entendeu como fazer as melhorias que intuía no Mocotó. Segundo Rodrigo, “O Mocotó tem uma história improvável, foi tudo muito mais acontecido do que planejado“.

Meu pai não me queria por perto, ele pensava que era uma vida muito dura, sem futuro. Mas eu vinha todos os dias, lavava a louça e descobri, retrospectivamente, que o que eu queria era estar com o meu pai. A vida dele era trabalho, tínhamos poucos momentos em casa. Então eu dei um jeito de estar com ele. 

Do Sertão para o Mundo

Hoje Rodrigo tem receita reproduzida em todos os cantos do planeta: ele é o criador do famoso dadinho de tapioca, que hoje virou petisco em muitos botecos brasileiros, mas que agora também pode ser encontrado em delicatessens do mundo inteiro, como em Paris, Singapura ou Austrália ou em novas criações como a que o famoso chef espanhol Ferran Adriá fez. Um orgulho e uma baita homenagem. 

Atualmente, Rodrigo também é jurado no programa Masterchef na TV Band, o que o transportou para dentro da casa das pessoas, que se sentem mais próximas dele na rua. Ele pode ser encontrado até em voo da KLM para Amsterdam! Foi ele quem elaborou o menu executivo da companhia aérea.

E seus restaurantes (sim, hoje são cinco em São Paulo: na Vila Medeiros, Zona Norte, na Vila Leopoldina, no Shopping D, o Balaio IMS e o Mocotó Café no Mercado de Pinheiros) seguem a filosofia de serem informais e acolhedores, como se o Rodrigo (e Seu Zé) estivessem nos recebendo em sua casa. O “Acolher bem sem olhar a quem” na entrada nos leva para um ambiente colorido, musical, cheio de xilogravuras de artistas e produtos de marca própria (tapioqueiras, pimentas, farinhas, cachaças…). Almoçar ali é ser projetado para o Sertão.

Dadinhos de tapioca
Torresminhos
Carne de sol na brasa e chips de mandioca

Uma grande família consciente

Hoje, Rodrigo também é pai e, junto com sua companheira Adriana Salay, formam uma família com 5 filhos, dos 6 aos 14 anos, uma turma grande!

Como manter as raízes sertanejas na família?

Eles têm contato com o Mocotó que nada mais é que uma grande homenagem ao Sertão, nossas raízes. Uma expressão muito poderosa da cultura é a comida e esse contato deles é diário: a gente come macaxeira, carne seca, eles vêm no Mocotó, eles ouvem a música, conhecem as expressões, volta e meia soltam um “oxente”… eles estão próximos desse universo. O Mocotó é muito maior do que a nossa família; há muitas famílias aqui e muitas nordestinas, do Ceará, do Rio Grande do Norte, do Piauí, da Bahia…

Suas crianças têm muito contato com a terra, com comida orgânica, com plantas que vão para os restaurantes…

Temos uma fazenda há 30 anos no Sertão que foi cuidada a vida toda pelo Seu Zé e, com ele mais velho, assumi a organização da fazenda. Tomei a frente com o tio Lula, uma pessoa incrível. Começamos um projeto de agrofloresta, cuidando das águas, cavando barragens, fazendo poços, cisternas. Depois de 1 ano trabalhamos a estrutura da fazenda, dos equipamentos. E este último ano tem sido dedicado à casa-sede, para ser um lugar de acolhimento e apresentar o sertão para mais gente. 

Antes da pandemia começamos a procurar uma propriedade em São Paulo, que pudesse ter uma proximidade com o restaurante. Achamos um sítio belíssimo na Serra da Mantiqueira, comprado recentemente em 2021. Revitalizamos a estrutura da casa, fizemos estufas, viveiros de mudas, pomares, temos uma parte para a mandioca, para o milho, para o café, um galinheiro…

Eu acredito que poucas ações nossas têm tanto impacto no mundo quanto comer.

Quando a gente escolhe o que vai comer, a gente está dando um voto para um sistema, para um modelo de sociedade, que pode ser justo ou injusto, sustentável ou não, enfim…se a gente não tiver consciência da origem do que a gente come, é muito difícil fazer boas escolhas. E invariavelmente, o que é bom para você, para o seu corpo, também é bom para o Planeta e bom para a sociedade.

Foto: Nicolas Gondim @nicolasgondim

Você já observa neles alguma aptidão culinária? 

Flor tem uma baita paixão pela cozinha. Fico feliz dela gostar porque é um empoderamento para as crianças terem recursos para cuidar da sua alimentação, fazer boas escolhas. Passa o dia vendo programas de culinária, conhece todos os chefes. Nina é ótima com pessoas, é super comunicativa; o Pedro adora cozinha, é super apaixonado pela terra. Os outros amam comer. Temos que ensinar as nossas crianças a ler, escrever e comer bem. Isso a gente não pode deixar de fazer.

Interessante essa noção de empoderamento que a culinária dá. O que é saber comer? 

Estar consciente das escolhas. Se você vai comer um pacote de recheados ou salgadinhos, saber o que está por trás disso. Quando você faz essas escolhas, está apoiando um modelo de indústria, um modelo de agricultura. Ao passo que quando você escolhe comer uma maçã ou fruta da época, isso apoia outro tipo de indústria, isso tem um outro impacto. Se você souber disso, é muito provável que você não vai escolher algo que faz mal para você, faz mal pra terra, pro solo, pro planeta, aumenta a desigualdade entre as famílias e pessoas. É importante que se saiba e faça escolhas conscientes

O pilar fundamental do Slow Food, movimento fundado por Carlos Petrini, fala que o que a gente precisa é de alimento bom, limpo e justo, para todos. Frase simples. Parece um projeto simples, mas que tem por trás uma complexidade enorme, um sem fim de desafios. Mas essa é uma luta que vale a pena ser lutada. Se a gente não lutar por isso, pelo o que a gente vai lutar? Faz parte da educação que a gente quer dar para os nossos filhos

O projeto “Quebrada Alimentada” do Mocotó tem essa filosofia, certo? E vocês também fazem as crianças participarem de tudo, da distribuição de cestas básicas…

Sim, um projeto que nasceu durante a pandemia e em resposta à necessidade de não deixar as pessoas do bairro e da comunidade morrerem de fome. Ali também as crianças participam: entregam cestas.
Elas participam de tudo, fazem parte dessa nossa vida caótica, cheia de projetos, mas que dá certo. Da mesma forma que eu queria ficar com o meu pai durante o trabalho dele, a turma está muito presente comigo em tudo o que faço. 

O que o seu Zé, seu Pai, acha disso tudo, hoje? 

Se ele conversar com você, ele é capaz até de dizer que gostou, de mostrar com orgulho a estrutura, as pessoas. Mas se falar comigo, sempre vai ter uma bronca, um detalhe, uma orientação. Ele é um sertanejo típico, durão. Mas isso foi fundamental: esse freio nos ajudou muito. Ele foi o contraponto que eu precisava. Assim como eu fui a energia que ele encontrou, quando já estava cansado. 

Serviços

Saiba mais em mocoto.com.br

Mocotó Vila Medeiros
Av. Nossa Sra. do Loreto, 1100

Mocotó Vila Leopoldina
Rua Aroaba, 333 

Mocotó no D
Shopping D, Av Cruzeiro do Sul, 1100

Mocotó Café
Rua Pedro Cristi, 89 – PInheiros

Balaio IMS (no Instituto Moreira Sales)

Dadinhos do Chef – Nuu

Dicas da Família Way do que não pode faltar na mala quando for para o Nordeste

Gate

Ele adora levar eletrônicos para a viagem: celular, drone, máquina fotográfica, carregadores,..

Fly

Ela é apaixonada pelo mochilão de viagem colorido, mas adora também outros acessórios como garrafas, fones…

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