Family Trip Magazine

Viajar é paraTodos!

Nem sempre é fácil viajar, mas para incentivar a sua família a colocar o pé na estrada, buscamos histórias inspiradoras de famílias atípicas em nossa comunidade

Por Sut-Mie Guibert

Um título que pode parecer muito otimista, mas é realmente nisso que a comunidade da Family Trip Magazine acredita: que viajar é para todos, mesmo quando existem dificuldades, sejam elas financeiras ou mesmo físicas e intelectuais. Quando o dinheiro está curto, o jeito é enxugar, se organizar e fazer passeios criativos. Todo passeio é válido, até pelos livros ou perto de casa!

Agora, quando alguém da família é PCD (Pessoa Com Deficiência), as preocupações e planejamento são diferentes e pedem mais cuidados e atenção, mas os obstáculos nem sempre são insuperáveis, como podemos inicialmente pensar. Sabemos que mesmo existindo movimentações do turismo para se adaptar e ser mais inclusivo, muitos passeios e destinos ainda não estão preparados, mas isso não pode ser motivo para ninguém desanimar e desistir de viajar. 

Por isso convidamos famílias da nossa comunidade, que têm lugar de fala, para contar suas histórias inspiradoras e compartilharem suas experiencias, dicas e desafios diante das dificuldades, que não as impediram de viajar.

Uma Amazônia para todos

Fabiane é mãe de três meninas, Mari, de 15 anos, Laura, de 11 e Sofia, de 9 anos que tem uma síndrome rara no espectro do autismo. Soso é suporte 1 e hoje, após uma primeira infância difícil com muitos problemas respiratórios, ela evoluiu bastante. Os pais afirmam que foi de extrema importância para eles aceitarem rapidamente o diagnóstico e serem assertivos com as terapias e ações necessárias. Eles pularam a fase do “luto do diagnóstico” para a aceitação de sua filha e celebração de cada pequena vitória. Fabiane conta que tendo uma família grande, eles sempre priorizaram o planejamento, mesmo antes do diagnóstico da filha. Em função de sua  síndrome, algumas coisas incomodam muito a Sofia, como lugares muito cheios, barulhentos, ficar parada muito tempo…por isso sempre evitam voos muito longos ou, caso seja realmente necessário, preferem optar por voos noturnos, onde ela acaba dormindo.

Sendo assim, uma das primeiras viagens internacionais da família foi feita para Orlando, nos Estados Unidos, por causa da excelente estrutura e porque os parques são bem preparados para receber pessoas PCDs (veja aqui outra família da nossa comunidade com criança pcd, que adora o destino). Uma dica essencial que a Fabi dá é que a Sofia sempre viaja com o cordão de girassol (que, no Brasil, desde julho de 2023, virou lei para identificação de doenças ocultas) com documentos e contatos, caso ela se perca ou se desorganize…O cordão já é bem conhecido pelas companhias aéreas, aeroportos, serviços em geral e parques. No Brasil, ele é cada vez mais divulgado e até no meio da Amazônia ele foi reconhecido!

Essa foi uma viagem que a Sofia adorou: conhecer a Amazônia. Com 3 filhas, a família teve o desafio de encontrar um destino que agradasse à todos, respeitando as diferentes faixas etárias e gostos. Nesse contexto, foi importante ter a ajuda de uma agência especializada em crianças e adolescentes, para ajudar na preparação e na estrutura no local. Foi interessante viajarem em um grupo com outras famílias, assim as filhas mais velhas puderam brincar e interagir com outras crianças. E também foi importante para a própria Sofia estar em grupo com outras crianças. Para um destino como esse, foi  crucial ter o apoio da agência para uma logística e organização personalizadas com Guia Concierge que pôde auxiliar nas necessidades específicas, ter plano B para alterar a logística da sua família, caso fosse necessário…

Essa foi uma viagem muito diferente e intensa para a família toda, um destino bem exótico e cheio de logísticas desafiadoras em carro e  barco.
Fabiane conta que para a Sofia, foi mais importante ainda: “experimentar sensações diferentes, um calor mais úmido, estar dentro de um barquinho no nível da água, sentir medos diferentes dos que ela estava acostumada, ver botos e jacarés com olhos brilhantes de noite, conhecer indígenas (nesse momento da entrevista ao vivo, Sofia começa a fazer a dança dos indígenas e lembra bem dos passinhos para a frente e para trás. Em seguida, mostra os colares que ela comprou). Em alguns momentos da viagem ela se desorganizou, claro, mas, de novo, como o grupo já estava todo inserido naquele contexto, foi tudo muito natural.”

“Essa viagem para a Amazônia marcou muito as crianças. Até por estarmos no Brasil e ter toda aquela infraestrutura que a gente jamais imaginaria que teria. E também por tudo o que a gente viveu com ela, principalmente” comenta Fabiane Machado.

Foto 1: Sofia orgulhosa dos colares indígenas que comprou / Foto 2: a família no pé de uma Samaúma, a maior árvore da floresta, após uma trilha

Hoje a autonomia da Sofia é tão estimulada que ela até já fez o seu primeiro acampamento sozinha, confiante e feliz.  

Sofia é uma criança integrada na família, na escola, nas férias e na vida. Todas as suas pequenas conquistas sempre foram tão celebradas que ela hoje já é uma verdadeira viajante! 

Viagens com cadeirante

A família Moreira mora no Canadá e o filho mais velho é cadeirante. O mundo é pouco preparado para pessoas PCD, mas alguns países como Estados Unidos e Canadá têm uma estrutura melhor.

Miriam conta que por um lado, tudo parece mais fácil por lá, porque o estacionamento para deficientes, geralmente é respeitado, as calçadas são largas e sem buracos, cada esquina tem rebaixamento…

Por outro lado, o inverno é brutal então, sair e entrar em casa demora, colocar a cadeira no carro, tirar, transferir o filho, etc e, quando neva, tudo fica mais difícil e demorado, até limparem a neve. Ainda assim, a família sempre aproveitou muitos passeios, levando o seu filho onde fosse possível.

Lógico que há destinos difíceis para ele, pois ele tem dificuldade de pernoitar no avião, por exemplo, então a família limitou os voos diurnos de até 5 horas. Do Canadá, dá para ir até o Caribe, os Estados Unidos ou até dentro do próprio país, já que é um país continental.

Tudo também fica mais fácil quando conseguem alugar carro. Já tentaram alugar um motorhome, mas a locadora não podia garantir a planta do veículo, só o tamanho. Daí, desistiram porque não podiam correr o risco de ter camas beliche, por exemplo. Mas, em 2020 alugaram um barco-casa muito legal para navegar pelo Canal Rideau. Como era perto de onde moravam, conseguiram verificar o barco antes de fecharem o passeio.

Estas últimas férias também foram passadas sobre as águas mas, desta vez, em um cruzeiro da Royal Caribbean. Foram 7 dias, passando pela Costa Maya,  Honduras, Belize e Cozumel.

Os cruzeiros têm excelente estrutura para os cadeirantes: é tudo plano, com elevadores, muitos restaurantes e diversão à bordo… um verdadeiro resort sobre as águas, que muda de país e paisagens! Eles adoram. 

Foto: Shutterstock

Uma família de caminhantes

Luna De Paoli nos contou que antes de formarem uma família, ela e o seu marido eram bem preguiçosos e não tinham o hábito de ter férias esportivas. No entanto, após o nascimento do seu filho com TEA (Transtorno do Espectro Autista), eles descobriram que o Lucas ficava muito mais tranquilo em passeios na natureza.

Começaram com muitas viagens de carro, para ter mais liberdade, mas agora já foram para Torres del Paine (Chile), El Chaltén (Argentina), Chapada dos Veadeiros, Chapada Diamantina onde fizeram muitas trilhas, Deserto do Atacama com Salar de Uyuni e até nas Montanhas Rochosas no Canadá! Mas o lugar que ele mais amou foi a Austrália, por causa dos animais. A família fez uma trilha em um parque com coalas e cangurus e ele ficou apaixonado. O hiperfoco dele é Pokémon, então o casal sempre levou algumas coisas do tema. Na Austrália, levaram vários pequenos pokémons e foram colocando em alguns lugares por onde passavam para deixar o menino motivado.

Hoje em dia, a Luna sempre anda com o fone de ouvido do filho, pois há barulhos que o incomodam. Quando ainda não sabiam do diagnóstico dele, foram visitar uma tribo indígena na Suazilândia, perto da África do Sul, e o garoto ficou desorientado, detestou. Na época, eles acharam que era birra, mas ele simplesmente não aguentou. Então a família nunca programa atividades em lugares com muito barulho e, como nem sempre é previsível, agora sempre andam com o fone/abafador.
E pasmem! Até para o Japão, o Lucas e família já foram, pois é claro: ele é fissurado por Pokémons!

Foto 1: a família no Salar de Uyuni / Foto 2: na Chapada Diamantina / Foto 3: em uma trilha no Deserto do Atacama

Aceitação e Celebração

É claro que nem sempre as coisas saem como previsto. Foi o caso de Maria de Antônia, coordenadora da ONG Lagarta Vira Pupa, que teve que voltar das férias antes do previsto porque o seu filho com TEA demonstrou rigidez e não quis mais ficar no destino.

Ou a jornalista Maria Karina, cuja filha Antônia, também autista, ficou doente durante as férias e foi parar no hospital porque não se alimentava mais.

Coisas que toda família teme, mas que no caso de crianças atípicas, se tornam ainda mais preocupantes e pedem um cuidado muito maior no planejamento da viagem, incluindo um bom seguro saúde de viagem e um planejamento financeiro emergencial, que diga-se de passagem, todo e qualquer viajante precisa ter na hora de imprevistos..

Ainda assim, estamos do lado dessas famílias que acreditam que diagnóstico não é destino e que sempre vale a pena tentar, lutar, mesmo se sabemos que isso pede uma energia e forças comensuráveis. Mesmo sendo difícil, nada como um dia após o outro, com muita paciência e carinho.

Vale mostrar coisas novas, abrir o mundo de sensações, conhecimentos, texturas, paladares…

Vale até se transformar, como aconteceu com a família De Paoli, que mudou seu estilo de lazer para se adaptar ao filho.

Todos esses pequenos e grandes passos caminham para evoluções e dentro desse processo, viajar também é importante e um grande incentivo para novas realidades. Temos que celebrar as pequenas conquistas, mesmo quando algo sai errado.

Escolha do Destino e Planejamento

Cada família tem suas particularidades, dificuldades e restrições e sabemos que algumas delas inviabilizam a viagem para certos destinos que ainda não estão preparados para receber PCDs ou que não possuem suporte adequado em caso de emergência. Por isso, um aval médico e uma pesquisa detalhada do local e das restrições e planos emergenciais são fundamentais.

Cada vez mais o turismo está se transformando para atender as demandas e vocês podem ler algumas matérias que já fizemos e que mostram um pouco do que já tem por aí, incluindo parques e hotéis que possuem o Selo de Empresa Amiga do Autista.

O importante é não parar nas limitações e dificuldades e abrir as portas para explorar o mundo com sua familia, seja qual for a dificuldade, e claro, se preparar bem para isso.

Como diz o escritor e palestrante Marcos Piangerso essencial é conhecer, aceitar e celebrar o seu filho (veja a entrevista aqui)! Que tal fazer isso aceitando o seu filho, oferecendo tudo que é possível para o desenvolvimento dele, celebrando cada conquista, mas também ocupando espaços que também pertencem aos atípicos? A criança volta mais desenvolvida e os laços familiares fortalecidos.

Veja a dica da família Machado no vídeo abaixo:

Serviços

Banner-Familia-Way-viagem-inclusiva

Contas de Instagram de viajantes com crianças PCD:

@MariadeAntonia – Maria Karina é mãe de Antônia, que tem TEA. Maria é jornalista e conta com muita sensibilidade e uma escrita belíssima, o dia a dia da família e todos as pequenas conquistas de sua filha. 

@Deborasaueressig – Débora é mãe do Theodoro e Benjamin, este com TEA. Ela é colunista da ONG Lagarta Vira Pupa 

@jujueatrupe– Juju tem síndrome de Down e 3 irmãos com quem brinca e viaja bastante.

@viagensdeumacadeirante – cadeirante, com paralisia cerebral, microcefalia e muitas milhas viajadas! 

@uhultrip – viagens com 3 crianças, sendo uma delas cadeirante com paralisia cerebral.

@papaiscadeirantes – um casal de cadeirantes com duas filhas que curtem suas vidas e viagens

@turismoadaptado – Ricardo Shimosakai usa cadeira de rodas, é apaixonado por turismo e inclusão.

Alguns Hotéis com certificação para receber crianças com TEA:

No Brasil
Hot Beach Resorts (SP)
Bourbon Atibaia Resort (SP)
Mavsa Resort (SP)

Cyan Resort (Itupeva)
Blue Tree Thermal de Lins (SP)
Hotel Jequitimar, Guarujá (SP)
Summerville Resort (PE)
Tivoli Ecoresort, Praia do Forte (BA)
Resort Cana Brava em Ilhéus (BA)
 
Pratagy Resort (AL)
Fazenda Park Resort (SC)
Bourbon Cataratas do Iguaçu (PR)

Caribe
Beaches Resort

As agências de viagens Viajar com Crianças ou Viajar com Adolescentes são especializadas em famílias, com roteiros adaptados para diferentes faixas etárias e com destinos que saem do comum. Não é uma agência especializada em viagens de PCDS, mas como já embarcou algumas famílias com diversos tipos de deficiência, talvez possa ajudar a sua família também.

Dicas da Família Way do que não pode faltar na mala

Gate

Ele adora levar eletrônicos para a viagem: celular, drone, máquina fotográfica, carregadores,..

Fly

Ela é apaixonada pelo mochilão de viagem colorido, mas adora também outros acessórios

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