O sabor de Trancoso
- Por Décio Galina
A origem de umas das chefs mais badaladas do Brasil, Morena Leite, é Trancoso que ela faz questão de desfrutar com as filhas: diversão ao ar livre, contato com a natureza e com a população local.
É um lugar para você colocar as crianças com os pés no chão, no natural, em contato com os baianos, que são pessoas maravilhosas. Minha infância teve muita fruta, minhas lembranças são ligadas à praia, nadar, pular onda, descer o rio. Trancoso é um quintal coletivo" diz a empresária e chef do Capim Santo, que tem duas filhas, Manuela e Júlia.
Os pais de Morena – Fernando Antônio Corsi Leite, o Nando, e Sandra Marques – estão entre os pioneiros de um dos principais destinos litorâneos do Brasil. A bordo de um Gurgel, puxando uma pequena carreta com geladeira, fogão e baú, Nando e Sandra, recém-formada em arquitetura, chegaram àquele lugar então inóspito nos idos de 1981 com a bebê Morena.
“Era uma Macondo”, conta Sandra, comparando a visão do Quadrado, ornamentado pela igreja São João Batista, ao cenário descrito por Gabriel García Márquez em Cem Anos de Solidão. “Não tinha luz, água, telefone, padre ou polícia”.
Para sobreviver, a mãe de Morena começou a cozinhar, mesmo sem muita experiência. Ao lado da amiga Dora Miranda, arrendaram um bar e passaram a vender prato feito no verão de 82. Não havia cardápio: serviam em cumbucas de barro o que havia de fresco no dia. Dora fazia acarajé e moqueca. Não demorou para o bar São João virar ponto de encontro de jovens aventureiros que surgiam em Trancoso. “Tínhamos uma vitrola à pilha e ótimos discos – rolava festa direto”, narra Sandra.
O movimento foi crescendo até que, em 1985, elas abriram o restaurante Capim Santo. Morena recorda que
“na cozinha da minha casa, muitas histórias foram contadas. Percebi que, a partir da comida, poderia conhecer pessoas e compartilhar conhecimento.”
Acompanhe a seguir a entrevista com Morena Leite, e suas experiências com crianças em Trancoso.
Quais são as suas lembranças de infância em Trancoso?
Muita fruta no quintal, com a minha mãe. Jaca, mangaba, carambola, acerola, jabuticaba… E, também, uma forte lembrança afetiva da minha avó materna (Ione). Para mim, comida sempre significou afeto.
Como eram as brincadeiras quando criança?
Muito ligadas à praia. Nadar, pular onda, a gente tinha um píer de onde pulava. Também descíamos o rio Trancoso. O vilarejo era um quintal coletivo. Fui criada não só pelos meus pais, mas por muitos amigos deles.
Quando você decidiu que sua vida seria dedicada à gastronomia?
Fui morar na Inglaterra quando eu tinha 15 anos. Então, fui passar um fim de semana em Paris com uma amiga meio cambojana, meio francesa, e vi que a França respirava gastronomia. Vi que eles não comiam para viver; viviam para comer. Foi então que conheci a [escola] Cordon Bleu [onde mais tarde Morena se formaria como chef e confeiteira]. Percebi que era aquilo que queria estudar.
Como sua família recebeu essa notícia? Eles te incentivaram?
Meu pai achou ok. Minha mãe, não. Ela ficou reticente. Afinal, nunca fui uma criança que amou comer, não tinha uma ligação com o sabor das comidas. Para ela, um chef tem que amar comer, e eu não era boa de garfo.
Quando e onde você abriu o seu primeiro restaurante?
Voltei para o Brasil em 1999 para trabalhar no Capim Santo que minha mãe tinha inaugurado na Vila Madalena. Lá, fiquei até 2004. Daí, fechamos e depois mudei para o Jardins, onde abri outro Capim Santo. Deixei de ser só a chef e virei empresária e empreendedora.
Qual é o ingrediente que não pode faltar na cozinha?
Amor. Sorriso, gargalhadas, pessoas animadas. O principal ingrediente de uma boa comida são pessoas alegres e conectadas. Uma pessoa apaixonada transforma um ovo caipira em iguaria; uma pessoa desconectada pega o atum mais caro do mundo e o deixa sem graça.
Qual o sabor de Trancoso?
Frutado. Tem muita fruta aqui. É por isso que tenho essa cozinha agridoce, tropical.
Por que Trancoso é um bom destino para famílias com crianças?
É um lugar para você colocar as crianças com os pés no chão, no natural, com pessoas locais. Os baianos são maravilhosos: eles não se sentem nem menos, nem mais; se sentem iguais a todo mundo. E adoro que minhas filhas vivam com pessoas normais. Aqui, você vai fazer amigos e interagir, sem se importarem com a sua origem. Eu sempre interagi com as filhas da minha babá e com crianças que chegavam de helicóptero para passar o fim de semana. O baiano é muito acolhedor. E o legal é curtir a ‘Trancoso real’ para sentir a essência do lugar, a liberdade de jogar bola no Quadrado, subir em árvore, correr… Bem diferente do que ficar dentro de um resort que poderia ser qualquer lugar do mundo.
O que você recomenda para uma família que vai para Trancoso pela primeira vez?
Tenho uma filha pequena [Júlia] e outra adolescente [Manuela]. Com a mais velha, a gente desce o rio de caiaque, ela gosta de andar de cavalo, tem quadriciclo, bicicleta, aula de capoeira, aula de queijo com o Helinho [ele tem uma fazenda de búfalos e produz queijo], aula de sushi, aula de corte de costura.
Quais são suas praias favoritas na região?
Gosto muito da do Rio da Barra e Itaquena: dois opostos, uma indo para Porto Seguro, a outra na direção da praia do Espelho.
Você fez algo de diferente durante o confinamento?
Aproveitei para estudar muito, refazer minhas receitas, meus bolos… Não foi um tempo perdido. Cozinhei muito aqui no Capim Solidário para ajudar quem precisava; testei e organizei receitas. E aproveitei para fazer um respiro profundo, em mim mesmo.
Serviços
Hoje a Chef Morena Leite tem dois restaurantes, em São Paulo e Trancoso, além da Capim Santo Escolas e Instituto Capim Santo que faz refeições para pessoas em vulnerabilidade social e ensina a profissão.
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