Viajar com Papai é Pop!
Um papo informal com Marcos Piangers, o pai que semeia uma paternidade presente e que reflete aqui sobre os ganhos de uma viagem em família
Por Sut-Mie Guibert
Palestrante em criatividade, inovação e paternidade, autor de best sellers como “O Papai é Pop”, traduzido em várias línguas e que será lançado nos cinemas no dia 11 de agosto, Marcos Piangers é também conhecido como um fenômeno na internet. Mas apesar de todo esse trabalho e celebridade, o Marcos é, antes de mais nada, o marido da Ana e o pai da Anita e da Aurora, as meninas que fizeram dele esse pai dedicado e apaixonado que conta suas experiências em família e desconstrói a paternidade machista para reconstruí-la de uma forma mais participativa e amorosa.
Em entrevista exclusiva com a Family Trip Magazine, Marcos topou falar sobre a importância das viagens em família (apesar de não postar sobre elas em redes sociais), refletir sobre os benefícios e desafios das jornadas e motivar outros pais a se conectarem e viajarem com seus filhos. O que era para ser uma simples conversa se transformou numa aula profunda e reflexiva sobre paternidade, viagens e formas de conhecer e aceitar nossos filhos. Venha se inspirar também:
Como você começou a viajar?
A minha mãe era uma mãe solo, as viagens que fazíamos eram no final do ano para ver os meus avós. Isso aconteceu depois que eu já tinha mais de sete anos. A gente morava em Florianópolis e meus avós moravam em Novo Hamburgo, uma cidade próxima de Porto Alegre. Me lembro de fazer viagens em um Fusca branco que tinha um cinto de segurança que mais atrapalhava, porque ele ficava escondido debaixo do banco de trás. Eu adorava também as enciclopédias dos meus amigos e o que eu mais queria era poder folhear, entender o mundo, ter mais conhecimento. Fui crescendo e pensando que melhor do que ler sobre a França é conhecer a França! Eu tinha o sonho de ir para a Europa, por curiosidade histórica.
Então quando a minha filha fez um ano, minha esposa e eu, que nunca tínhamos saído do Brasil, decidimos conhecer a Europa e fomos para Paris. Daí nasceu o texto “Excesso de culpa na bagagem” do livro O Papai é Pop, por causa da nossa consciência, mesmo se foi uma viagem supergostosa. Depois que a gente quebra essa barreira dos medos das viagens (como vai ser, perder o passaporte, ter os dólares roubados…) tudo fica melhor. E aí, claro, quanto mais você viaja, mais você vai ficando tranquilo.
O que vocês mais gostam durante as viagens?
Acredito que conhecer a cultura do lugar é conhecer as pessoas e a comida. Eu coloco comida aí porque ela é uma espécie de história daquele lugar. Os mexicanos colocam muita pimenta porque eles não tinham geladeira; é a carne seca no Brasil, o tucupi no Norte… tudo conta histórias sobre aquele lugar. Uma pessoa que viaja, que só frequenta shoppings e fast foods só está reforçando os preconceitos com tudo o que é diferente. Eu entendo o medo que muitas pessoas têm de se abrir para o mundo mas é muito bonito quando a gente supera os nossos medos, quando a gente conhece o diferente e rompe com os nossos preconceitos.
“Quando a gente vai para lugares tremendamente diferentes e desafiadores até para os nossos preconceitos, estamos, de alguma forma, expandindo os nossos horizontes e ensinando para os nossos filhos que o diferente é gostoso, que o diferente é bom, que o outro é confiável. Eu acho que uma pessoa bem-sucedida é uma pessoa que confia nela mesma, que confia nos outros e confia no amanhã, no futuro. A viagem tem um papel fundamental nessa construção de confiança e de cultura.”
Sua filha mais velha já é adolescente. O que mudou nas viagens?
Mudou que a minha filha agora gosta de comprar, gosta de lojas que tenham coisas diferentes, adora uma livraria, uma papelaria, comprar livros, canetas e bloquinhos. E compras é uma coisa que nem eu, nem minha esposa nunca gostamos; a gente brinca que os filhos crescem e a gente vai se adaptando.
Você já viajou sozinho com elas?
Eu fui morar em Porto Alegre quando a minha filha tinha um ano. E eu ia todo mês para Florianópolis por conta de trabalho. Todo mês eu a levava porque, com menos de dois anos, ela não pagava passagem. Então, a gente viajava todo mês, eu e ela. Sozinhos.
Você sentia o olhar das pessoas?
Todas as vezes. Todas. Cem por cento das vezes! Inclusive quando eu encontrava conhecidos, eles me perguntavam o que tinha acontecido, se eu precisava de alguma ajuda (risos).
Segundo um levantamento dos clientes da Agência Viajar com Crianças, somente 10% dos pais separados viajam sozinhos com seus filhos pequenos. É como se não soubessem lidar com essa criança. Isso te surpreende?
Eu tenho muita compaixão com esse pai. A gente às vezes tira da conta o quanto esse pai, esse menino, esse jovem, esse adulto foi criado para não se envolver com a família e com filhos. A gente esquece que é uma construção cultural e que nada tem, ou não deveria ter, a ver com o indivíduo. Tem a ver com a cultura que dá somente cinco dias de licença paternidade, que não oferece trocador de fraldas no banheiro masculino, onde nenhuma boneca fala “papai”, uma cultura em que o homem que abandona não é visto como alguém ruim, é só apenas alguém que estava despreparado naquele momento, enquanto que uma mulher que abandona o filho é uma bruxa. Precisamos desconstruir os mitos do que é ser homem. E ser homem não é ser violento, agressivo, competitivo; não é beber todas, nem pegar todas. Ser homem não é dirigir de forma violenta e sair no braço e bater em todo mundo. Isso é ser imaturo, um moleque mal-educado. E muitos homens adultos são moleques mal-educados. Infelizmente. Isso não é culpa do indivíduo, é culpa de uma cultura que não ensina o homem a fazer a transição de um moleque mal-educado para um moleque bem-educado e de um moleque bem-educado para um adulto bem-educado.
Quanto mais você viaja mais vê como existem civilizações antigas e culturas diferentes que valorizam a potencialidade do homem e sua força como cuidador não só da sua prole, mas como cuidador das pessoas que estão ao seu redor e cuidador de si mesmo, que é algo que o homem precisa. Precisa e renega.
Que conselhos você daria para esse pai?
Eu sempre digo que o processo da paternidade é um processo de três passos:
- CONHECER é o primeiro, porque tem muito pai que nem sabe quem é o filho, do que ele gosta, as coisas preferidas. Tem muito pai que não sabe o nome da professora, o telefone do pediatra…Primeiro você tem que conhecer o seu filho, e isso exige tempo. Uma viagem é uma ótima oportunidade para vocês terem bastante tempo juntos e poder conhecer o seu filho.
- Daí vamos para o segundo passo que é muito difícil e muito pai não quer fazer, que é o ACEITAR: você vai aceitar o seu filho. (A minha filha hoje gosta de fazer compras. Eu tenho que olhar para ela e dizer “beleza, aqui está o meu cartão”). Mas eu vou aceitar o jeito que você é. Porque eu te conheço. Se eu te conheço, eu sei do que você gosta e eu aceito como você é.
- E o terceiro passo é CELEBRAR. Porque só aceitar não é o suficiente. A gente tem que celebrar essas diferenças.
O desconforto que traz a paternidade, a maternidade, existe também no conhecer o novo em uma viagem. O desconforto é o que te molda; faz de você uma pessoa muito mais essencial, no sentido de olhar para dentro e descobrir quem você é. E aí de novo: confiar em você, confiar no outro e confiar no futuro. Nisso, a viagem tem um papel fundamental.
Por que vale a pena viajar juntos?
Conhecer, aceitar e celebrar o seu filho é um processo longo, algumas vezes, dolorido. Mas pode ser facilitado com viagens, porque a cada uma delas, você vai ficando mais íntimo: vocês dormem e almoçam juntos, estão sempre trocando experiências. A viagem é muito boa para todo esse aprendizado e eu acredito nisso especialmente para pais muito ocupados: a viagem é a chance que a gente tem de estar ali olhando um para o outro, cem por cento juntos.
Vocês têm alguma viagem inesquecível?
Nós adoramos mergulhar, ver peixes. Mas acho que quando a gente foi para a Praia dos Carneiros eu fui muito feliz…eu me lembro de estar num final de tarde com a praia vazia, o céu rosa, minhas filhas felizes nadando no mar e ser um daqueles momentos que eu pensei: “cara, era isso que eu sempre quis. Isso aqui talvez seja a minha realização máxima”. Poder estar com as meninas, perto da natureza. A natureza tem uma importância muito grande para a nossa família, temos uma relação muito forte com ela. E talvez também tenha sido tão gostoso porque não tinha Wi-Fi.
Ficar juntos vinte e quatro horas é uma experiência muito genuína. E essa busca pela verdade, pela autenticidade, faz parte das férias e das viagens.
Veja abaixo um trecho da entrevista e a íntegra no nosso canal de YouTube.
“Onde quer que você esteja, você pode estar feliz, você pode estar conectado, você pode estar descobrindo a sua melhor paternidade, a sua melhor maternidade, você pode estar conhecendo, aceitando e celebrando o seu filho. Uma viagem pode ajudar muito nesse aprendizado.”
Serviços
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Ela é apaixonada pelo mochilão de viagem colorido, mas adora também outros acessórios como garrafas, fones…
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